Li nesses dias uma notinha em um portal de notícias. Digo “notinha”, assim no diminutivo, porque o texto, além de curto, estava num lugar de pouca acessibilidade. É muito provável que pouca gente o tenha lido.
A notinha falava sobre “Ainda estou aqui”, do diretor Walter Salles, com as interpretações impecáveis de Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello. Dizia da enorme repercussão do filme. Mais de três milhões de espectadores já tinham assistido. E acrescentava um dado bem interessante: as pesquisas no Google sobre a ditadura civil-militar de 1964 no Brasil tinham disparado de forma extraordinária.
É de se supor que essa ânsia pela busca de informações envolva principalmente as gerações mais recentes. Elas não viram, não viveram e nem sentiram de perto as atrocidades sanguinárias daquele longo período sinistro da história do Brasil. No máximo, devem ter ouvido o galo cantar, mas sem saber exatamente onde.
A temática e o sucesso do filme vieram, portanto, em boa hora. Afinal, nesses anos recentes, o país esteve por quatro longos anos nas mãos da extrema direita. E hoje se sabe que a democracia escapou por pouco de um novo golpe. Nada poderia ser mais oportuno e pedagógico, então, do que o filme de Walter Salles. Do que o Globo de Ouro merecidamente atribuído a Fernanda Torres. Do que a repercussão mundial de “Ainda estou aqui”. O filme funciona como sinal de alerta e como disparador de necessárias reflexões sobre as consequências abomináveis e dolorosas de uma ditadura.
Foi aí que, a partir da tal notinha, associei a repercussão de “Ainda estou aqui” à declaração de William Faulkner, que eu considero a mais precisa forma de se entender o valor da literatura, e que eu amplio para a arte em geral e, em particular, para o cinema:
“O que a literatura faz é o mesmo que acender um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor.”
O filme “Ainda estou aqui”, baseado no livro do mesmo nome, de Marcelo Rubens Paiva, pode até dizer pouco sobre o que foram os anos da ditadura no Brasil, mas escancara o horizonte para nos motivar a entender as terríveis atrocidades que ela deixou, como feridas que nunca mais queremos ver cicatrizadas.
Ditadura nunca mais!
Sem anistia para golpistas!