Poranduba Amazonense será a primeira exposição de artes visuais da Galeria de Arte da Valer Teatro, espaço multicultural, no Largo São Sebastião, idealizado pelo jornalista e diretor do Grupo Valer, Isaac Maciel. A galeria terá uma programação de exposições trimestrais, inspiradas em títulos de livros já publicados pela Editora Valer. As exposições realizadas no local serão sempre coletivas e contarão com a curadoria e produção da ‘Manaus Amazônia Galeria de Arte‘, sob a responsabilidade do galerista, Carlysson Sena.
Com 15 metros de área expositiva, a galeria da Valer Teatro traz para esses próximos três meses, obras de arte produzidas por oito artistas indígenas amazonenses. São eles Duhigó e Yúpury, do Povo Tukano, Dhiani Pa’saro, do Povo Wanano, Jaime Diakara e Paulo Desana, do Povo Dessano, Sãnipã, do Povo Apurinã, Wira Tini, do Povo Kokama e Kuenan Ticuna, do Povo Tikuna.
A mostra
A diversidade cultural já identificada em livros publicados pela Valer, agora se apresenta na versão de artes plásticas com a Poranduba Amazonense que trata de narrativas indígenas que fortalecem crenças, cosmologias, mitologias e a relação homem e natureza.
Poranduba, entre outros significados, quer dizer ‘histórias fantásticas’, como destaca o autor do livro Poranduba amazonense ou Kochima-uara Porandub, João Barbosa Rodrigues (1842-1909). Livro que está na 2ª edição, editada pela Valer, com apresentação do escritor e poeta amazonense Tenório Telles.
As histórias fantásticas ou narrativas mitológicas discorridas sempre em rodadas de conversas entre os indígenas e seus parentes ganham visibilidade por meio dos mais de 30 quadros expostos na nova galeria.
Quadros de diferentes técnicas, da pintura à gravura e também fotografias, revelam visões dos saberes e da contemporaneidade que os artistas imprimem em suas obras. Todos os artistas têm obras reconhecidas nacionalmente e, nesta exposição específica, todos são amazonenses.
Assim, as obras que são exclusivas da exposição estarão todas à venda e o comprador de cada trabalho receberá um Certificado de Propriedade e Autenticidade, além do Memorial Descritivo da obra, assinado pelo próprio artista. Os valores estão alinhados com o mercado dessas artes e as obras vão estar à venda, na própria Galeria ou no site da Valer Teatro.
Duhigó
Duhigó, cujo nome significa “primogênita”, na língua indígena Tukano, nasceu em 1957 na aldeia São Francisco na região de Pari Cachoeira, São Gabriel da Cachoeira, Amazonas. Filha de pai Tukano e mãe Desana, tornou-se a primeira artista visual profissional da etnia Tukano, após concluir o curso de Pintura no Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em 2005.
Reconhecida por traduzir a cosmovisão indígena em suas obras, Duhigó retrata a memória cultural Tukano e a natureza amazônica, utilizando elementos do cotidiano, artefatos e mitologia de seu povo. Sua carreira é marcada por exposições nacionais e internacionais, como a Bienal Naïfs do Brasil; Vaivém; na sede da ONU em Nova Iorque e prêmios como o Funarte
Mestra das Artes Visuais (2023) e Mestra dos Saberes e Fazeres Culturais nas Artes do
Amazonas (2024). Pioneira, Duhigó é a primeira artista indígena do Amazonas a integrar o acervo do MASP e da Pinacoteca de São Paulo, com obras como “Nepũ Arquepũ”; e “Máscara de Ritual”;. Participou
na inédita Bienal das Amazônias em 2023. Em 2024, representou o Brasil, com 3 obras de arte, no Pavilhão da Bolívia, na Bienal de Veneza, reafirmando sua relevância na arte contemporânea mundial.
Dhiani Pa’saro
Dhiani Pa’saro, cujo nome significa Pato do Mato na língua Wanano, nasceu em 1975 na
aldeia Tainá, São Gabriel da Cachoeira, Amazonas. É o primeiro artista visual profissional de
sua etnia, formado em Pintura e Marchetaria pelo Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da
Amazônia, em 2005. Suas obras exploram o universo mitológico indígena, preservando a
memória e os hábitos de seu povo Wanano por meio de uma linguagem poética única.
Com uma carreira marcada por exposições no Brasil e no exterior, Dhiani é reconhecido pela
excelência em pintura e marchetaria, sendo destaque na Bienal Naïfs do Brasil, Vai Vém e com
obras em acervos prestigiados, como o MASP e a Pinacoteca de São Paulo. Recentemente,
participou da exposição “Histórias Indígenas”, exibida no MASP e programada para o Kode
Bergen Art Museum, na Noruega, em 2024.
Sãnipã
Sãnipã, cujo nome significa “Caba”, na língua Apurinã, nasceu em 1979, na aldeia Caetitu,
Lábrea, Amazonas. É descendente dos povos Apurinã e Kamadeni e a primeira artista indígena
Apurinã profissionalizada em artes visuais, formada em Pintura pelo Instituto Dirson Costa de
Arte e Cultura da Amazônia, em 2005. Suas obras utilizam materiais da floresta e abordam
temas como grafismos, rituais e o imaginário indígena, resgatando a memória e estética de
seus povos.
Participou de exposições nacionais e internacionais, incluindo a Bienal Naïfs do Brasil, Bienal
das Amazônias e na sede da ONU em Nova Iorque, além de possuir obras no acervo do Sesc
São Paulo. Recentemente foi convidada pelo Instituto Ling, de Porto Alegre, para realizar uma
intervenção artística no mural da sede. Sãnipã é também uma defensora da preservação
cultural Kamadeni e usa sua arte para reafirmar a existência e riqueza cultural dessa etnia
ainda não reconhecida pela FUNAI.
Yúpury
Yúpury é um artista visual nascido em Porto Velho, Rondônia, em 1987, filho de mãe da etnia
Tukano e pai baiano. O significado de seu nome na língua indígena Tukano é o primogênito da
nação Tukano da terceira geração. Desde cedo, acompanhou a mãe, a artista Duhigó,
desenvolvendo um estilo único em suas pinturas.
Formado em Pintura pela Escola de Arte do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da
Amazônia, em Manaus, Yúpury transforma suas vivências e memórias em obras de arte que
registram rituais, o cotidiano e os elementos mitológicos dos povos Tukano em diálogo com a
contemporaneidade. Para ele, a arte é uma forma de terapia e resistência cultural, eternizando
tradições antes preservadas pela oralidade.
Com exposições nacionais e internacionais, Yúpury já participou de eventos como a “1ª
Coletiva Internacional de Artistas Amazônicos” em Nova Iorque (2009) e da Bienal Naifs do
Brasil (2020), onde recebeu menção especial pela obra “Aprendiz de Pajé”;. Atualmente dedica-se à coleção temática “Tempo de Piracema”, inspirada no cotidiano indígena e nas histórias
ancestrais.
Kuenã Ticuna
Kuenan Tikuna é uma artista visual indígena pertencente ao povo Magüta/Tikuna, nascida em
Feijoal, Amazonas, em 2003. Sua arte é profundamente conectada à herança ancestral de sua
cultura, especialmente por meio do uso do tururi, uma tela sagrada feita da entrecasca de
árvores, que desempenha um papel central em rituais e cerimônias do povo Tikuna. Kuenan
utiliza pigmentos naturais, como urucum, jenipapo e açafrão, colhidos em seu território
sagrado para criar obras que exploram temas como a cosmologia indígena, gênero e
sexualidade sob uma perspectiva indígena contemporânea.
Seus trabalhos têm sido expostos em mostras como a 3ª Mostra de Arte Indígena – Minha
História (2023) e o projeto Cartografias Visuais para uma Escrita LGBTI+ no Teatro Vivo (2023),
além de integrarem a SP-Arte 2023, que celebrou a diversidade artística e a resistência cultural
de povos indígenas. Kuenan aborda o corpo como território de resistência, utilizando a arte
para desafiar imposições coloniais e celebrar as identidades indígenas em contextos urbanos e
tradicionais.
Atualmente, Kuenan continua explorando a relação entre arte, memória e resistência,
trazendo visibilidade à diversidade de seu povo e contribuindo para a preservação de sua
cultura. Em 2024 foi selecionada entre artistas de todo país para a Mostra de Arte da
Juventude (MAJ), promovida pelo Sesc Ribeirão Preto.
Jaime Diakara
Jaime Diakara é do povo Dessana, do município de São Gabriel da Cachoeira. Diakara desenvolveu sua arte através da leitura cosmológica da sua etnia. Além de ser artista plástico é professor, ilustrador e escritor brasileiro da etnia Desana, pertencente ao Grupo Wari Diputiro Porã.
Licenciado em Pedagogia Intercultural Indígena pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Jaime é uma voz ativa na literatura e arte visual indígena contemporânea.
Reconhecido por sua contribuição à cultura e à educação, foi vencedor da coleção PROARTE de Literatura em 2013. Suas obras, que incluem Waímurã Ki’tiakã: historinhas dos animais (2014), Yahi Puíro Ki’ti – A origem da constelação da garça (2016) e Gaapi: Uma viagem por este e outros mundos (2021), resgatam narrativas ancestrais com um olhar poético e educativo. Em 2024, lançou Nũkũ Wiímũ Kihty – Um conto nunca contado, com apresentação de Daniel Munduruku, reafirmando sua importância na literatura indígena brasileira. Já participou de diversas exposições de arte no Brasil.
Wira Tini
Amazonense descendente das tradições ancestrais do povo Kokama, Wɨra Tini destaca-se como grafiteira, muralista e pesquisadora. Usando técnicas de expressionismos, seu trabalho tece a fusão de sua identidade ribeirinha e sua imersão na efervescência do contexto urbano do Norte, criando assim um repertório rico em tradição e representatividade, aprofundando-se em seus significados, mergulhando em suas particularidades e contribuindo de forma significativa para o enriquecimento do meio artístico.
Participou de diversas exposições no Amazonas, São Paulo, Rondônia, Rio de Janeiro, Roraima, Acre, como a série de Exposições MAMA TUYUKA e Mostra de Arte Indígena de Manaus. Em São Paulo, esteve em 2022 na Amazônia Crew e Bienal de Graffiti. Em 2024, participou em Manaus das Exposições Re Inveção da Amazônia e ECOAA.
Paulo Desana
Paulo Desana, cinegrafista e fotógrafo indígena de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, é fundador da Produtora Dabukuri Entretenimento, que promove a cultura indígena por meio de conteúdos audiovisuais e arte visual. Reconhecido por seu olhar artístico e sensibilidade cultural, Paulo é o criador da série fotográfica Pamürimasa – Os Espíritos da Transformação, inspirada na mitologia da Cobra-Canoa, retratando membros de diversas etnias do Rio Negro com grafismos tradicionais.
Em parceria com a jornalista Ana Amélia e a comunicadora indígena Daniella Yepá, produziu fotos para a matéria “Alimentação e Mudanças Climáticas”, selecionada na 14ª Chamada de MicroBolsas da agência de notícias A Pública.
Como diretor de fotografia, participou de projetos como Parque das Tribos – Muitos povos, uma só nação (2024) e Ciência e Culinária (2021), além de documentários e curtas premiados, como Wuitina Numiá (Meninas Coragem). Atuou como cinegrafista no documentário Cobra Canoa e no curta de ficção Wuitina Numiá (Meninas Coragem), premiado como Melhor Curta- Metragem no Festival de Cine Independente de San Antonio, no Equador, em 2022. Também trabalhou no documentário O Dabucuri, ambos produzidos pela Shine a Light (EUA) e Usina da Imaginação (Brasil). Seu projeto fotográfico Pamürimasa (Os Espíritos da Transformação) foi exibido na plataforma virtual TEPI.
Suas obras já foram exibidas em eventos como a exposição Fruturos: Tempos Amazônicos e festivais de renome, destacando sua contribuição para a valorização das narrativas indígenas contemporâneas. Em 2023, participou com suas obras na Bienal das Amazônias, em Belém.